sábado, 13 de outubro de 2012

CHAVEZ AMIGO, O POVO ESTÁ CONTIGO.



        Estar em um país para documentar a popularidade de um grande líder e, como num jogo de cartas, o país se transformar em uma grande mesa de jogatina, em que detentores das cartas são personagens fervorosos que travam uma violenta guerra utilizando ambos as mesmas armas: A mídia. Nesse contexto nasce a película “A Revolução Não Será Televisionada” filmada e dirigida pelos irlandeses Kim Bartley e Donnacha O’Briainque, que estavam na Venezuela para documentar umas das personalidade mais famosas da América Latina, Hugo Chávez e, foram surpreendidos por um grande golpe de estado. Entre as duas forças estavam os canais de televisão privados e, o novo Estado revolucionário de Hugo Chávez, que movimentavam as cartas e condicionavam o povo com discursos de legitimação e estratégias de linguagem para ora manipular a realidade, ora transformar um político polêmico em um grande mártir social.
        Quando Chávez assumiu o governo contava com amplo apoio das camadas mais pobres da sociedade, o que na Venezuela representava 80% da população. Chávez era um político carismático, não vinha de famílias tradicionais e não era branco, o que foi decisivo pra criação da imagem de herói nacional. Umas das principais medidas de Chávez quando alcançou o poder foi à redistribuição de riqueza, o que de fato aconteceu – através dos dados de 2003 nota-se um aumento da renda de classe mais baixas C, D, E(segundo o CEPAL -Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe). Para distribuir a riqueza gerada da extração de petróleo (principal fonte de riqueza do país) Chávez teve que romper com a “Doença Holandesa”- a riqueza mal distribuída a população- o que gerou o descontentamento das elites que abocanhava boa parte da riqueza produzida. Assim armou-se o cenário hostil entre o estado e a elite, esta com apoio dos meios de comunicação privados. Tais medidas também provocaram afrontas internacionais. Os EUA que viam na Venezuela uma fonte barata de petróleo, experimentaram medidas protecionistas duras adotadas pelo novo estado Bolivariano. O governo chavista estava acumulando diversos inimigos, dentro e fora do país, tais forças que iriam se unir para tentar futuramente tira-ló do poder.
        Os canais de televisão internacionais e principalmente os nacionais privados sempre procuravam associar a imagem do presidente Hugo Chávez à violência e ao terrorismo. Mas Chávez por outro lado não era a vítima que o documentário se ateu a mostrar, ele também usava estratégias para se defender e promover-se, ao evidenciar em uma fala um dos grandes problemas de seu governo, “Nós não comunicamos” Chávez constrói uma rede de propaganda forte para o que chamava de Revolução Bolivariana. Com o Canal 8 (emissora televisiva) e programas de rádios, Chávez conseguiu o que talvez fosse determinante para derrubar o futuro golpe de estado que viria. Ele permeava as camadas mais baixas da sociedade com uma linguagem de discurso única, simples e acolhedora, diferentes dos canais privados que eram voltados para elite. Ele aproximava-se do povo e utilizou a mídia para legitimar seu governo como um dos mais democráticos e participativos até então, em vigor na Venezuela. Isso fica evidente quando observamos, durante o documentário, multidões indo ao encontro de Chávez, pedindo favores e, enviando cartas na esperança de serem atendidas pelo “pai dos pobres”. Sua imagem estava consolidada, quem a ele se opunha, era contra a vontade do povo.
        O ponto auge do documentário surgiu quando militares aderiram a favor do golpe sendo condicionados por imagens manipuladas pelas redes privadas de televisão. Uma manifestação conflituosa envolvendo uma multidão chavista e outra contra o governo culminou na morte de diversos manifestantes. Os óbitos caem sob responsabilidade de Chávez. O clima de apreensão que se seguiu foi sobre o palácio presidencial de Miraflores. Anti-chavistas exigiam a renúncia do presidente com ameaças de bombardear o palácio. Chávez não vê outra saída a não ser se entregar. Outra manipulação é estrategicamente alçada, dizendo que o presidente tinha renunciado, ou seja, colocando oficialmente os golpistas como o governo legítimo da Venezuela, com o consenso do “ex-presidente”.        Pedro Carmona, representante da elite venezuelana assume o poder e permanece por pouco dias. Nesse intervalo, o canal chavista de TV fica misteriosamente fora de ar e impossibilitado de anunciar o seqüestro do presidente à população, que se vê cercada somente por noticias de televisões privadas exaltando o golpe. Ao espalhar boato de que Hugo Chavez teria sido seqüestrado, a população sai às ruas em apoio a Chávez. Uma multidão rodeia o palácio de Miraflores com os dizeres “Chavez amigo, o povo está contigo!” exigindo a volta de Chávez. Os golpistas saem às pressas com a adesão também dos militares que estavam no palácio a favor do presidente seqüestrado. Com a pressão popular Chavez retorna ao palácio sendo ovacionado pelo povo, e no primeiro discurso após retornar, diz: Não se permitam envenenar! Fazendo uma clara alusão às distorções da realidade que foram produzidas pelas mídias privadas.    
        O documentário é muito consistente em abordar depoimentos de pessoas envolvidas no conflito, mas não podemos deixar de retratar uma parcialidade, intrínseca aos documentários, que apesar de mostrarem a realidade apresentam algumas tendências favoráveis as certas partes, no caso, uma tendência favorável ao presidente Hugo Chávez. A Revolução Não Será Televisionada consegue captar através de conflitos reais como a mídia consegue através da perpetuação do seu discurso, criar verdades que conduzem a população a determinados posições. Apesar de ser uma produção de 2003 consegue manter um diálogo com o presente e, principalmente a função midiática contemporânea. Podemos, com o documentário, observar os mecanismo pelos quais os governos conseguem ganhar legitimação popular e também observar na linguagem, um ponto importante, pois é através dela, que conseguimos transpor o campo midiático ao campo social.Hugo Chávez consegue se reafirmar como uma grande líder na Venezuela e se manter no posto através dessas duas pilastras de sustentação: a mídia e linguagem utilizadas no discurso midiático.







Marlon Bruno Vitor de Paula*
Foto  deviantart



* Marlon  é aluno do primeiro período do curso de Comunicação Social da Universidade Federal de São João Del Rei.

Referências: BARTLEY, Kim/ O’Briain Donnacha, The Revolution Will Not Be Televised. [Documentário]. Produção de Power Picture, direção de Kim Bartley e Donnacha O’Briain.. Irlanda, 2003. 1h14min. Color
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário