sexta-feira, 12 de outubro de 2012

OS BONS MALDITOS DA MPB

Sérgio Sampaio


        Tropicalismo, Rock’n roll, Bossa Nova, Jovem Guarda.. entre tantos rótulos, alguns músicos geniais da década de 70 receberam uma classificação nada agradável: foram os “malditos” da MPB, inovadores e poéticos até os ossos, que revolucionaram a linguagem e a sonoridade da música brasileira, passando longe das FMs e, muito, das gravadoras.

                    Tom Zé, Sergio Sampaio (foto), Jards Macalé, Jorge Mauter, Luiz Melodia, Walter Franco, Itamar Assumpção. Músicos que quando surgiram, nos idos de 70, foram considerados impopulares, por fazerem músicas difíceis de compreender e de rotular. Como diria Jards Macalé, na canção “Let’s Play That”, vieram para desafinar o coro dos contentes. Fazendo um som genuinamente artístico, com letras de pura poesia e sonoridade não vinculada a nenhum “partido” musical da época, alguns acabaram morrendo no total esquecimento, outros apenas na atualidade estão obtendo o devido reconhecimento. Por não terem espaço nos catálogos das gravadoras e ficando conhecidos por uma parte bem restrita do público, foram batizados de “malditos” pela imprensa.
            Na época parecia haver espaço para muitas vertentes musicais. Assim como havia a Jovem Guarda, o público mais intelectualizado ouvia bossa nova e o rock tinha espaço com Mutantes e outras bandas mais experimentais. Mas mesmo Mutantes precisou se vincular ao movimento tropicalista para finalmente aparecer, cantando ao lado de Gilberto Gil no festival de 67 a música "Domingo no Parque". O que parece unir o grupo heterogêneo dos malditos foi sua sonoridade com arranjos bem trabalhados, e suas letras muitas vezes herméticas, como o fazia - e muito - Tom Zé. Esses estranhos no ninho faziam “apenas” música, “apenas” poesia, e prezavam a autenticidade que lhes custou o sucesso, já que se recusavam a atender pedidos de gravadoras para compor músicas mais comerciais. Sua alma estava em suas músicas, e eles não tinham nenhuma intenção de vendê-la. E mesmo não vendendo milhares de discos e sendo pouco lembrados até hoje, os malditos da MPB deixaram um legado para a música brasileira, influenciando artistas que hoje os homenageiam, em projetos como "Bendito é o maldito entre as mulheres", que em 2011 apresentou shows com vozes femininas da nova MPB cantando canções de alguns "malditos".
            Hoje existe uma geração consistente de bandas independentes, fazendo música não comercial, favorecidas pelo cenário digital. Não é mais essencial que uma banda tenha uma gravadora e um selo para ser conhecida, ela pode usar o myspace ou redes sociais, para ser vista e lembrada. Esses músicos têm buscado a originalidade e novidade que tentavam trazer os “malditos” há quatro décadas, experimentando fazer arte além da grana, já que se foi o tempo em que era necessário pagar jabá e tocar na rádio para a música aparecer – e hoje quem está experimentando fazer sons diferentes e genuínos tem aparecido para um público que busca algo diferente de simples música fast food.
            Apesar de nos depararmos com uma identidade funesta para a música brasileira, ouvindo as rádios e programas de TV proliferando suas duplas sertanejas e funks de gosto sempre duvidoso, podemos ver que, como antes, basta procurar porque sempre existem bons letristas, músicos e intérpretes nos mais variados estilos dentro da MPB. Hoje, poderíamos chamar de "malditos" as centenas de bandas independentes que tocam em bares e esquinas de todo o país, com letras poéticas e incursões instrumentais inovadoras, versus a massa sertaneja/pagode/funk que toca nas rádios.
            Música boa existe e toca, sim, é preciso ouvir o que está amaldiçoado, mas nunca fadado ao desengano...e quem tiver ouvidos, que ouça.
       
              Um aperitivo...






Texto de Danielle da Gama e Maria Catarina Carvalho

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