sábado, 3 de novembro de 2012

ROBIN HOOD LATINO



Um líder político de forte carisma buscando o bem comum às classes menos favorecidas, contrapondo-se à elite e enfrentando governos mais poderosos. Falando assim, o enredo se aproxima ao de um filme medieval, no qual o protagonista, por algum motivo, se vê obrigado a agir contra inimigos que prejudicam seu povo. E é exatamente sob esse olhar que o documentário de Kim Bartley e Donnacha O’Briain, “A revolução não será televisionada”, é pautado.
Bartley e O’Brian realçam ao longo de todo o documentário o forte apelo popular que Chávez detinha das camadas mais pobres, como o presidente mantinha uma aproximação com esses eleitores, e por que o adotaram como um verdadeiro herói da  nação venezuelana. Talvez isso se dê por sua tentativa, em 1992, de dar um golpe contra o governo da época ou por não ser branco nem vir de uma classe política tradicional. Não importa, o fato é que Chávez era apoiado por 80% dos venezuelanos, esses a quem havia prometido redistribuir as riquezas.
Em contrapartida, Chávez não era muito bem aceito pela elite venezuelana, que não estava muito satisfeita com a redistribuição das riquezas. Chávez tinha também outro poderoso inimigo: Os Estados Unidos, o qual via na Venezuela uma fonte barata de petróleo. Como as propostas do governo Chavista se opunham diretamente aos ideais da grande elite venezuelana, os opositores tiveram como principais líderes o presidente da maior federação empresarial, Pedro Carmona, e o chefe da CTV, Carlos Ortega, que buscaram aliança no governo americano.
Além da aliança americana, esses líderes opositores tiveram na mídia privada o grande diferencial para propagar a ideia de que o chavismo se apoiava na violência, se equivalendo à ditadura de Hitler e Mussolini. A mídia internacional, sobre tudo a do EUA, também fazia sérias críticas ao governo chavista, ao ponto de generais venezuelanos assumirem as preocupações da CIA e ameaçarem, em rede aberta nos canais privados, que Chávez deveria ser deposto.
Enquanto na mídia privada bombardeavam-se críticas ao chavismo, na TV aberta, por sua vez, Chávez comandava um programa onde ele falava diretamente com o telespectador. De forma simples e pessoal, ele ganhava através de suas aparições em rádios e televisão a lealdade do eleitor. Recebia cartas do seu povo e fazia questão de respondê-las sempre que possível, não havia jeito de se opor contra um líder como esse, não quando o seu povo faria de tudo para defendê-lo.
O grande fator, então, para Hugo Chávez ter se consolidado como o grande líder político que é, foi justamente o fato de fazer do seu eleitor um amigo íntimo, preocupar com seus desejos e se mostrar sempre igual aos demais. Não fosse por essas peculiaridades do governo chavista, Chávez estaria hoje preso em alguma prisão americana e a Venezuela sendo governada por Pedro Carmona. Não dá para negar, Chávez e o seu povo são um só, um luta a guerra do outro, e vencer uma maioria de 80% não é tão fácil assim.
Através de depoimentos reais, o documentário mostra como um grande líder pode ter poder sobre o seu povo apenas por seu carisma, evidencia as dificuldades de um governo populista na luta contra uma elite e uma grande potência mundial e mostra que a união de um povo pode fazer a diferença, mesmo quando essa luta parece estar aparentemente perdida. É um documentário sobre a devoção de um povo por um líder de grande carisma social. É uma verdadeira história de amor por sua pátria.


Texto de Artur Caldas*
Imagem: Google imagens


*Artur Caldas é aluno do primeiro período do curso de Comunicação Social da Universidade Federal de São João Del Rei.


Referências: BARTLEY, Kim/ O’Briain Donnacha, The Revolution Will Not Be Televised. [Documentário]. Produção de Power Picture, direção de Kim Bartley e Donnacha O’Briain.. Irlanda, 2003. 1h14min. Color



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