Um líder político de forte carisma buscando o
bem comum às classes menos favorecidas, contrapondo-se à elite e enfrentando
governos mais poderosos. Falando assim, o enredo se aproxima ao de um filme
medieval, no qual o protagonista, por algum motivo, se vê obrigado a agir
contra inimigos que prejudicam seu povo. E é exatamente sob esse olhar que o
documentário de Kim Bartley e Donnacha O’Briain, “A revolução não será
televisionada”, é pautado.
Bartley e O’Brian realçam ao longo de todo o
documentário o forte apelo popular que Chávez detinha das camadas mais pobres,
como o presidente mantinha uma aproximação com esses eleitores, e por que o
adotaram como um verdadeiro herói da
nação venezuelana. Talvez isso se dê por sua tentativa, em 1992, de dar
um golpe contra o governo da época ou por não ser branco nem vir de uma classe
política tradicional. Não importa, o fato é que Chávez era apoiado por 80% dos
venezuelanos, esses a quem havia prometido redistribuir as riquezas.
Em contrapartida, Chávez não era muito bem
aceito pela elite venezuelana, que não estava muito satisfeita com a
redistribuição das riquezas. Chávez tinha também outro poderoso inimigo: Os
Estados Unidos, o qual via na Venezuela uma fonte barata de petróleo. Como as
propostas do governo Chavista se opunham diretamente aos ideais da grande elite
venezuelana, os opositores tiveram como principais líderes o presidente da
maior federação empresarial, Pedro Carmona, e o chefe da CTV, Carlos Ortega,
que buscaram aliança no governo americano.
Além da aliança americana, esses líderes
opositores tiveram na mídia privada o grande diferencial para propagar a ideia
de que o chavismo se apoiava na violência, se equivalendo à ditadura de Hitler
e Mussolini. A mídia internacional, sobre tudo a do EUA, também fazia sérias
críticas ao governo chavista, ao ponto de generais venezuelanos assumirem as
preocupações da CIA e ameaçarem, em rede aberta nos canais privados, que Chávez
deveria ser deposto.
Enquanto na mídia privada bombardeavam-se
críticas ao chavismo, na TV aberta, por sua vez, Chávez comandava um programa
onde ele falava diretamente com o telespectador. De forma simples e pessoal,
ele ganhava através de suas aparições em rádios e televisão a lealdade do
eleitor. Recebia cartas do seu povo e fazia questão de respondê-las sempre que
possível, não havia jeito de se opor contra um líder como esse, não quando o
seu povo faria de tudo para defendê-lo.
O grande fator, então, para Hugo Chávez ter
se consolidado como o grande líder político que é, foi justamente o fato de
fazer do seu eleitor um amigo íntimo, preocupar com seus desejos e se mostrar
sempre igual aos demais. Não fosse por essas peculiaridades do governo
chavista, Chávez estaria hoje preso em alguma prisão americana e a Venezuela
sendo governada por Pedro Carmona. Não dá para negar, Chávez e o seu povo são
um só, um luta a guerra do outro, e vencer uma maioria de 80% não é tão fácil
assim.
Através de depoimentos reais, o documentário
mostra como um grande líder pode ter poder sobre o seu povo apenas por seu
carisma, evidencia as dificuldades de um governo populista na luta contra uma
elite e uma grande potência mundial e mostra que a união de um povo pode fazer
a diferença, mesmo quando essa luta parece estar aparentemente perdida. É um
documentário sobre a devoção de um povo por um líder de grande carisma social.
É uma verdadeira história de amor por sua pátria.
Texto de Artur Caldas*
Imagem: Google imagens
Imagem: Google imagens
*Artur Caldas é aluno do primeiro período do curso de Comunicação Social da Universidade Federal de São João Del Rei.
Referências: BARTLEY, Kim/ O’Briain Donnacha, The Revolution Will Not Be Televised. [Documentário]. Produção de Power Picture, direção de Kim Bartley e Donnacha O’Briain.. Irlanda, 2003. 1h14min. Color