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Sérgio Sampaio |
Tropicalismo,
Rock’n roll, Bossa Nova, Jovem Guarda.. entre tantos rótulos, alguns músicos
geniais da década de 70 receberam uma classificação nada agradável: foram os
“malditos” da MPB, inovadores e poéticos até os ossos, que revolucionaram a
linguagem e a sonoridade da música brasileira, passando longe das FMs e, muito,
das gravadoras.
Tom Zé, Sergio Sampaio (foto), Jards Macalé, Jorge Mauter, Luiz Melodia, Walter
Franco, Itamar Assumpção. Músicos que quando surgiram, nos idos de 70, foram
considerados impopulares, por fazerem músicas difíceis de compreender e de rotular.
Como diria Jards Macalé, na canção “Let’s Play That”, vieram para desafinar o
coro dos contentes. Fazendo um som genuinamente artístico, com letras de pura
poesia e sonoridade não vinculada a nenhum “partido” musical da época, alguns
acabaram morrendo no total esquecimento, outros apenas na atualidade estão
obtendo o devido reconhecimento. Por não terem espaço nos catálogos das
gravadoras e ficando conhecidos por uma parte bem restrita do público, foram
batizados de “malditos” pela imprensa.
Na época parecia haver espaço para muitas vertentes musicais. Assim como
havia a Jovem Guarda, o público mais intelectualizado ouvia bossa nova e o rock
tinha espaço com Mutantes e outras bandas mais experimentais. Mas mesmo
Mutantes precisou se vincular ao movimento tropicalista para finalmente
aparecer, cantando ao lado de Gilberto Gil no festival de 67 a música
"Domingo no Parque". O que parece unir o grupo heterogêneo dos
malditos foi sua sonoridade com arranjos bem trabalhados, e suas letras muitas
vezes herméticas, como o fazia - e muito - Tom Zé. Esses estranhos no ninho
faziam “apenas” música, “apenas” poesia, e prezavam a autenticidade que lhes
custou o sucesso, já que se recusavam a atender pedidos de gravadoras para
compor músicas mais comerciais. Sua alma estava em suas músicas, e eles não
tinham nenhuma intenção de vendê-la. E mesmo não vendendo milhares de discos e
sendo pouco lembrados até hoje, os malditos da MPB deixaram um legado para a
música brasileira, influenciando artistas que hoje os homenageiam, em projetos
como "Bendito é o maldito entre as mulheres", que em 2011 apresentou
shows com vozes femininas da nova MPB cantando canções de alguns
"malditos".
Hoje existe uma geração consistente de bandas independentes, fazendo
música não comercial, favorecidas pelo cenário digital. Não é mais essencial
que uma banda tenha uma gravadora e um selo para ser conhecida, ela pode usar o
myspace ou redes sociais, para ser vista e lembrada. Esses músicos têm buscado
a originalidade e novidade que tentavam trazer os “malditos” há quatro décadas,
experimentando fazer arte além da grana, já que se foi o tempo em que era
necessário pagar jabá e tocar na rádio para a música aparecer – e hoje quem
está experimentando fazer sons diferentes e genuínos tem aparecido para um
público que busca algo diferente de simples música fast food.
Apesar de nos depararmos com uma identidade funesta para a música
brasileira, ouvindo as rádios e programas de TV proliferando suas duplas
sertanejas e funks de gosto sempre duvidoso, podemos ver que, como antes, basta
procurar porque sempre existem bons letristas, músicos e intérpretes nos mais
variados estilos dentro da MPB. Hoje, poderíamos chamar de "malditos"
as centenas de bandas independentes que tocam em bares e esquinas de todo o
país, com letras poéticas e incursões instrumentais inovadoras, versus a massa
sertaneja/pagode/funk que toca nas rádios.
Música boa existe e toca, sim, é preciso ouvir o que está amaldiçoado,
mas nunca fadado ao desengano...e quem tiver ouvidos, que ouça.
Um aperitivo...
Texto de Danielle da Gama e Maria Catarina Carvalho
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