Estando na Venezuela desde 2001 para fazerem um documentário sobre a administração popular de Hugo Chávez, os cineastas Kim Bartley e Donnacha O’ Briain se depararam em 2002 com um golpe de estado realizado pela direita que desencadeou no sequestro do presidente. Puderam então registrar todos os detalhes desse golpe e também a reação dos chavistas. A mídia local foi o estopim para o golpe, divulgando mentiras utilizando uma linguagem simples e linear. Esses registros deram vida ao documentário “A revolução não será televisionada”.
Eleito em 1998 por mais de 80% da população
venezuelana, Hugo Rafael Chávez Frías estava cumprindo a promessa de dividir a
riqueza oriunda do petróleo e de libertar a Venezuela das políticas liberais
impostas por Washington e isso causou grande revolta na oposição que temia
perder suas regalias. Com o apoio dos EUA, que seriam prejudicados com a
Constituição revolucionária bolivariana de 1999 e que sofriam com os ataques
vindos do presidente, Pedro Carmona e Carlos Ortega lideraram a oposição
utilizando os meios de comunicação, principalmente os canais de TV privados
para manipularem a opinião pública e a colocarem contra o atual governo.
A mídia divulgou fatos mentirosos contra o
presidente. Editou as imagens do confronto ocorrido em frente ao palácio
Miraflores no dia 11 de abril de 2002 para que Chávez se tornasse culpado pelos
assassinatos ocorridos e com isso pudesse justificar o golpe que já planejavam
dar. Noticiou
também,
a possível insanidade mental do presidente, sua renúncia, quando na verdade ele
havia sido sequestrado. Além de
elogiarem o governo de Carmona, fazendo com que a população pensasse que
existia democracia, paz e um controle sobre as reivindicações vindas dos
chavistas, o que era mentira.
Mesmo com a sabotagem do canal 8 da TV
estatal, onde o governo se comunicava com a população e também com a proibição
dos jornalistas de entrevistarem qualquer pessoa favorável ao governo Chávez, a
população através de um canal de TV privado internacional, conseguiu noticiar o
sequestro do presidente causando indignação e união entre as pessoas. Tanto que
em uma manifestação e com a ajuda de militares que apoiavam Chávez conseguiram
retomar o poder. “Não te queremos Carmona! Ladrão!”, “Queremos a Chávez!”,
“Chávez amigo, o povo está contigo!”.
É importante ressaltar que a popularidade de
Hugo Chávez se dava pelo fato de que ele não era branco e nem vinha da classe
política tradicional. O carisma e a atenção voltada à população carente utilizando
de uma linguagem simples faziam com que ele fosse respeitado, amado e
idolatrado pela maioria da população bolivariana. Também se torna importante
salientar que o documentário utilizou uma linguagem simples, mas é fato que
pode existir, assim como existiu na mídia, um interesse. Toda a narrativa, a
escolha das imagens e os depoimentos são tendenciosos a nos levarem a acreditar
na inocência de Hugo Chávez e a perseguição que sofreu injustamente. Portanto
não há como saber a verdade sobre esse fato.
Fica evidente que a
mídia possui um enorme poder de influência sobre a opinião pública. Nesse caso,
segundo o que o documentário nos mostra, utilizou da manipulação dos fatos para
construírem uma realidade que a favorecesse e assim conseguir o poder. Esse
fato fez com que o governo de Chávez percebesse que não havia se preocupado com
as comunicações e por isso após a retomada do poder Chávez criou mais emissoras
estatais. Segundo ele “a falta de uma comunicação eficiente, representada por
uma boa divulgação das conquistas e dos planos de execução do governo, era
considerada uma falha na revolução”.
*Edilene é aluna do primeiro período do curso de Comunicação Social da Universidade Federal de São João De Rei.
Referências: BARTLEY, Kim/ O’Briain Donnacha, The Revolution Will Not Be Televised. [Documentário].
Produção de Power Picture, direção de Kim Bartley e Donnacha O’Briain.. Irlanda,
2003. 1h14min. Color